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Conheça-te XIII: Construindo a Paz

Por: 12 de dezembro de 2017 Sem comentários

Por Zulma Reyo. Publicado originalmente em Lamujerinterior.es

REVISÃO:

Se você tem acompanhado esta série, talvez ainda não tenha compreendido porque se associa a personalidade a uma manifestação negativa como o vício. Claro que não somos abertamente “invejosos”, “gananciosos” ou “luxuriosos”. Somos muito bem educados e socialmente adaptados para reconhecê-lo.

Exagerei nas características do comportamento para concentrar-me nos hábitos da mente que utilizam atributos energéticos como recurso inicial. Em meu estudo, o propósito é compreender claramente como, por exemplo, a ira contém o potencial de liderança. Ou a inveja que desenvolve e emprega faculdades basicamente neutras e, por isto, adquire a habilidade de perceber e medir configurações à distância. Então, uma pessoa que demonstre liderança ou avalie abstratamente fenômenos tem que ser irado ou invejoso? Não.

Se quisermos adquirir domínio sobre nós mesmos, necessitaremos nos conscientizar de como as formas-pensamento atuam em nós e em nosso ambiente. Especialmente, necessitaremos aprender como alterar sua possibilidade no momento em que as forças emergem, sem perder o precioso impulso que produzem. A censura e a repressão enfáticas não favorecem a evolução humana.

Devemos compreender que toda aprendizagem passa pelo processo de densificação. Isto é o que define a terceira dimensão: a experiência na matéria onde, por meio do detalhe, a consciência humana aprende, modela e maneja os elementos. A personalidade é o instrumento chave e o motivador primário. Cada um aprende a manejar suas energias físicas, emocionais e mentais e o faz de maneira diferente e de acordo com certos padrões.

A combinação de elementos – água, fogo, ar e terra – serve para ativar uma tendência dominante nos atributos físicos, emocionais e mentais de uma pessoa em diferentes proporções e maneiras. O conjunto mente-emoção-corpo responde automaticamente produzindo estilos espontâneos pessoais e culturais. Optei por expor este tema através do modelo dos sete vícios como mistura básica de forças elementais.

O núcleo de cada combinação é neutro. Converter-se em vício ou virtude depende da experiência e da consciência do sujeito. Originalmente, o impulso da alma é para a virtude. Mas, ao passar pela experiência física humana, a alma adquire todas as propriedades de fixação da matéria. Sua redenção passa pelo mesmo processo que o indivíduo, a sublimação ou a alquimia espiritual, que concentra a experiência na matéria. A conscientização é a luz que transmuta o vício em virtude. A transmutação nunca pode ocorrer “em ausência”. Não há chama violeta, intervenção angélica ou ativação de chacras que possa produzi-la por si. Nossa experiência é o que altera a proporção de luz na matéria e começa pelo nosso corpo e nossa personalidade. É o que tenho ensinado durante décadas como “alquimia interior”. Não se trata dos efeitos, não importando quão fascinante seja o vício. Trata-se sempre do manejo de energia

 

Passemos agora para os últimos três tipos.

LUXURIA E PUREZA

No mais alto grau de intensidade, encontra-se a luxúria. A intensidade varia desde uma inclinação sexual leve até um impulso devorador. A luxúria não é somente sexual; seu apetite voraz é o da libido que a tudo consome.

A libido se alimenta de urgência furiosa e de violência. Sua agressividade é parecida com a da ira, mas, neste caso, concede licença total para viver os prazeres do corpo e dos sentidos, acreditando firmemente que os fins justificam os meios. Sente que a vida lhe deve tudo e que tem direito sobre tudo o que lhe apeteça. Como no orgulho, a pessoa se equipara a Deus, justificando resolutamente a violação da lei natural.

A luxúria projeta foco sustentado de vontade pessoal usado em todos os aspectos da vida e não só no corpo físico. A luxúria transforma um ser humano em um instrumento de expressão bestial e de sobrevivência, sem considerar as necessidades dos outros ou da sua própria alma.

O corpo do indivíduo comprometido pela luxúria se cobre de uma densidade muito baixa que nem sempre é visível. Anseia por estímulos mais pesados e mais fortes para sentir-se vivo. A intensidade da violência entorpece o sistema nervoso e a mente, e leva-o a destroçar-se e a violar a vida pelo mero “prazer” de destruir.

A vítima da luxúria nunca se recupera da sua dependência da intensidade. Em evolução, canaliza a intensidade para propósitos maiores. Conhece tudo o que é relacionado ao poder da vontade e, por isto, está capacitada para conseguir fazer as coisas e mobilizar o ambiente para alcançar resultados louváveis.

Habituado a viver fora da lei, na maioria dos caos, o mais extraordinário deste tipo é sua habilidade para distinguir o que é a justiça divina e a não-dualidade. Como um líder excelente, sabe usar a força quando necessário e destaca-se pela sua grande tolerância e manejo de intensidades de resistência e de sobrevivência, com alcance profundo e firme.

A GULA E A ALEGRIA

Poderíamos acreditar que esta compulsão afeta somente o indivíduo. A gula cultiva o autoprazer até os limites da resistência, bloqueando toda forma de comunicação humana. Sobrepõe-se em cada um dos três corpos (físico, emocional e mental), drenando a vitalidade e o fluxo de vida. Para manter sua dependência do prazer, juntamente com a sensação e a emoção de excitação e plenitude que produz a atividade escolhida, esta pessoa desenvolve a habilidade de permanecer fixamente em seu objetivo.

Um glutão genuíno não é o obeso típico (que usualmente corresponde às características do próximo tipo). Para satisfazer repetidamente seu apetite, o glutão continuamente estimula o estado de fome-desejo como excitação e variedade. Simultaneamente, evoca uma forma de saciedade sustentada e repetida. Desenvolve um tipo de músculo que lhe permite prolongar tanto a fome-desejo como a saciedade e transferir isto para qualquer situação. Com frequência, sádicos e masoquistas possuem este tipo de configuração energética. A gula não é só por comida, mas pela excitação. Os glutões costumam entreter e ser a atração social. Mantém a sensibilidade e a percepção no nível máximo. Sua aura é com frequência opaca em tons opacos de cinza a branco, enquanto a aparência floresce com todo tipo de realização artística e gosto refinado.

Devemos observar até que ponto uma pessoa submetida aos apetites da gula poderia responder a pessoas e coisas com entusiasmo e apreço. Este tipo sabe com promover uma celebração e tem uma grande capacidade para jogos, entretenimento e versatilidade.

Uma pessoa glutona quando evolui é um mestre da geração e da multiplicação de energias, criando abundância e luxo nos ambientes que chega a amar, profundamente consciente do que é seleção e qualidade. É apto para as circunstâncias onde se requer tato e variedade, tal como a diplomacia e a arte.

A PREGUIÇA E A PAZ

Quando uma pessoa está sujeita à ilusão tecida pela forma pensamento da preguiça não pode ver, interessar-se ou pensar sobre nada mais que não seja a cessação de toda vida. Tudo se torna mais lento. Nos casos extremos, extinguem-se todas as capacidades e poderes, inclusive a voz da consciência. Busca o nível mais baixo de densidade, como a inércia, para encobrir sua violência introvertida e sua raiva até alcançar o torpor. Pode parecer com os estágios mais profundos do alcoolismo.

Gradualmente, reprime a vitalidade, resultando em vários estados de imobilidade e falta de resposta. O preguiçoso conserva suas energias para um futuro imaginário onde poderia “precisar delas”. Através do seu não envolvimento, o impulso emocional para a expansão e a expressividade é anulado. Costuma deixar as capacidades mentais se atrofiarem.

A pessoa preguiçosa está repleta de contradições. Pode parecer preguiçosa ou lenta, quando na realidade está em movimento perpétuo com uma grande variedade de atividades que aparentemente se cancelam mutuamente. Esta pessoa parece nunca terminar um projeto, mesmo que complete vários simultaneamente. Não é tão exuberante como seus irmãos orgulhosos, luxuriosos e irados, mas quase sempre se distingue.

Às vezes, o comportamento margeia a morbidez e a brutalidade, parecendo faltar com o respeito a todos e a tudo e, no entanto, mantém-se calado, permanecendo fiel à verdade e nunca produz. Algumas pessoas preguiçosas não fazem sua parte do trabalho, criando um desequilíbrio parecido ao provocado pelo ganancioso. Aparentemente e indiretamente, obrigam outras pessoas a prover sua parte. Quando olhamos a volta, é precisamente esta pessoa, com sua habilidade para ser invisível e sustentar grandes cargas de energia, que ao final das contas faz o trabalho de todos.

Este tipo não rejeita coisas e pessoas como o fazem os outros tipos. Sua rejeição é de outro tipo. Em vez de se resguardar da vida, a pessoa preguiçosa a absorve passivamente dentro de si até apagá-la. Seu controle sobre as funções corporais, emocionais e mentais é grande, persistindo por meio da fórmula da não resistência, de Gandhi. Nunca perde esta característica. Quando a pessoa preguiçosa se ilumina, o mundo inteiro se encontra dentro dela.

Este tipo sabe como conter, sustentar e abraçar toda situação que qualquer outro consideraria impossível. Sabe como fundir-se com outra pessoa e esperar. Sabe como difundir e mesclar quando necessário e pode ver de maneira global, além da dualidade e das dicotomias. É valiosíssimo em sua objetividade e graça acalmando pessoas e situações com imparcialidade, elegância e serenidade.

 

CONCLUSÃO

Tudo na criação obedece a uma hierarquia no caminho de volta para o Amor por meio da experiência direta do manejo da energia e da força. Na escala mais alta, encontra-se a experiência necessária para construir a paz, o domínio que exibe a destreza para reunir forças sem que qualquer das suas partes perca sua identidade. A paz requer um esforço e um poder de sustentação, enormes.

O mal existe na mente do criador e não aparece fora do campo energético dos seres humanos. Em cada caso de recalibragem da escuridão à luz, o propósito é aprender a usar a inteligência da luz em conjunto com o manejo da força elemental sem condenar a negatividade. A condenação e a repressão somente retardam o processo de aprendizagem e de autodomínio, o que impede uma pessoa de aproveitar seu “dom”. O potencial envolvido em uma expressão energética deverá ser identificado e suas partes deverão ser reconstruídas de acordo com sua natureza mais elevada. Um Mestre conhece isto e trabalha com os ritmos envolvidos nos elementos básicos em lugar de trabalhar com os significados.

Construir a paz já é bastante difícil, por exemplo, para as pessoas treinadas por meio da preguiça e que desenvolvem a capacidade e aguentar e resistir. Sustentar a paz é excepcionalmente difícil para os tipos intensos impulsivos. É quase impossível permanecer fiel a si mesmo quando nos temos definido pela permanente atividade e pelo que gostamos ou não gostamos.

No entanto, todos os tipos chegam, em algum momento, a um espaço onde contribuem ativamente para a paz, para a humanidade e para a virtude. Alcançam este estado tendo conhecido tudo o que NÃO É virtude e extraído a essência iridescente própria da areia e da pedra, como é o caso da pérola, por EXPERIÊNCIA direta e consciente das suas debilidades e capacidades inerentemente humanas. A pessoa que chega a ser dona de si mesma e resgata o poder que estava imerso no inconsciente coletivo, é verdadeiramente heroica. Estes são os verdadeiros mestres, iniciadores, portais para o futuro e construtores da paz para sempre.

 

Este artigo conclui a série em quatro partes – CONHEÇA-TE X a XIII – nas quais foram examinadas as formas-pensamento que compõem a personalidade comum, suas partes obscuras e luminosas e as atividades incessantes da vida na matéria. O ensinamento que inspirou esta série, assim como o meu livro “A Quintessência – Na Ausência do Amor”, origina-se de um mestre cipriota, místico do cristianismo esotérico, Daskalos, com quem estudei durante vários anos. Em um dos nossos encontros, ele abençoou esta versão do trabalho, dizendo que ajudaria muitas pessoas. Espero que assim seja.

Tradução: Claudia Avanzi