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Conheça-te XIV – O Manejo da Energia Pessoal

Por: 19 de janeiro de 2018 Sem comentários

Por Zulma Reyo. Publicado originalmente em La Mujer Interior

A vida se refere ao dar e receber. E, no contato humano, esta troca se refere à qualidade e não à quantidade. Em lugar de uma transação comercial, o dar envolve a transmissão de uma qualidade da Consciência que poucas vezes é apreciada ou retribuída. Nosso intercâmbio de amor e afeto ocorre, muito frequentemente, visando o benefício material.

Precisamos de outras pessoas para nos definir e para sobrevivermos. No entanto, como Consciência, somos seres únicos e necessitamos somente da qualidade de espaço e tempo para vivenciar a realidade interior sem pressões, nem influências externas. Se não equilibrarmos estas duas necessidades básicas, arriscamos a nos tornar seres mecânicos, totalmente desprovidos de energia física e inteligência e carentes de autenticidade e de inspiração. Infelizmente, por não diferenciarmos a necessidade real da necessidade induzida, criamos uma zona de troca que frustra as pessoas em lugar de destacá-las.

A fonte de energia pessoal mais abundante e mais livremente usada é a emocional. Aparece sempre combinada com elementos físicos e mentais. A emoção envolve os outros, circula e regressa à origem. Como impulso vital, é completamente automática. As emoções animam as relações de todo o tipo que marcam nossas vidas e nossa criatividade. Explicam porque tantas pessoas não podem ficar sozinhas e porque tantos outros se aborrecem.

A vitalidade emerge de um ser humano, as emoções lhe dão qualidade e a mente lhe dá a forma. Tudo o que um ser humano faz envolve o uso da vitalidade emocional. A qualidade da vitalidade que emitimos e manejamos fica impressa em nós. A maneira como vivemos determina nossa saúde, vitalidade e nossas criações. Todos nós recorremos à manipulação energética e, particularmente em nossas condições urbanas de superpopulação, esta manipulação se torna exacerbada.

As pessoas se exaurem mutuamente em seus intercâmbios diários sem observar o que realmente ocorre. Dar e receber revela uma realidade energética surpreendente. Mesmo em condições triviais normais, emitimos vitalidade física sem reconstituí-la. Dar a vitalidade aos que supostamente necessitam converteu-se em um passatempo global. Daí a necessidade, verdadeira ou manipulada, que pede para ser atendida.

Com frequência, espiritualidade é equiparada a serviço ou oferecimento. Acredita-se que a pessoa espiritualizada tem quantidades ilimitadas de energia para dar de forma caridosa sem ser afetada pelas vibrações do ambiente. Isto pode ter sido verdadeiro no passado quando as condições de vida eram diferentes. Mas, hoje, não é assim. O corpo material sofre enorme estresse e pressões mesmo sob circunstâncias ideais. É a condição global do nosso tempo.

A maioria das pessoas não tem consciência de que viver envolve continuamente energia e este processo cobra um preço alto, não importando o que se faça. Toda atividade requer energia física. Estamos sempre ouvindo sermões sobre dietas, alimentos e práticas saudáveis, mas ninguém fala sobre nossos intercâmbios diários e a maneira como, literalmente, esgotamos nossa força vital. Particularmente, as pessoas espirituais têm uma responsabilidade enorme no que diz respeito ao uso dos seus próprios recursos. A energia flui da maior para menor frequência e constrói circuitos. Poucos intercâmbios energéticos acontecem no mesmo nível de frequência. Ninguém está excluído do efeito bumerangue. Ocorre nos níveis atômicos, normalmente imperceptíveis. Quando a proporção entre a quantidade e a qualidade da vitalidade que se emite não é igual à quantidade e qualidade recebida, mesmo somando-se ao elemento espiritual, está criado o desequilíbrio.

O fato de se ter um propósito exige uma circulação energética onde a energia do emissor se modifica para combinar-se ou estimular ou desafiar o receptor. Os pensamentos emocionais se encontram e se combinam. Se a resposta não ocorre rapidamente, às vezes, é preciso explorar maneiras alternativas. As pessoas passivas e necessitadas, que recorrem ao jogo de atrair a atenção, são especialmente letais. O retorno energético pode catalisar diferentes reações desde a depressão até a supraexcitação, a fadiga física, os distúrbios digestivos e do sono.

O medo e a dúvida são energias mais densas e encontradas em abundância. Também a complacência e a autossatisfação. Penetrar estas paredes para alcançar alguém, ou para evitá-los, consome uma quantidade tremenda de vitalidade. A estagnação, a rotina e o comodismo são condições comuns que corrompem a fusão energética. Mesmo o êxito e o conforto excessivos podem fechar as portas para a circulação dinâmica de energia, adicionando dificuldades desnecessárias. O solitário, o crítico crônico e a pessoa frustrada, amargurada e raivosa emitem toxinas para manter a própria defesa. Mesmo aquele que se recolhe socialmente, emprega uma tremenda quantidade de força para sustentar a vigília.

A popularidade move energias positivas que criam um problema diferente: atrai exigências e adulação. As pessoas populares assumem a tarefa de mobilizar outras pessoas e geralmente tornam-se superficiais no esforço para manter o impulso e a importância que desejam que seja reconhecida. Esta qualidade pode ser intensificada pelo contato físico. Às vezes, ocorrem dependência e hábito nos relacionamentos, tais como casamentos, namoros e amizades muito próximas. As relações contratuais são estabelecidas da seguinte forma: um vende e o outro compra entretenimento contínuo. As mulheres tendem a fazer isto por meio da atração sexual e os homens, por meio de argumentos desafiadores e promessas.

Somos viciados no que “gostamos” e no que nos “incita” criando apetites que apelam aos nossos sentidos imediatos em lugar de desenvolvermos gostos e possibilidades novos e mais refinados. Uma pessoa acostumada a receber atenção de grandes grupos não poderá se adaptar facilmente à vida solitária. Atores, quando estão interpretando um personagem, com frequência sofrem colapso energético que poderá conduzir ao suicídio ou ao uso de substâncias viciantes. Na ausência da resposta energética de outras pessoas, criamos realidades virtuais. Isto se evidencia na profusão de jogos e aparatos eletrônicos. As pessoas já não têm muito contato direto e estão mais do que nunca entrincheiradas em redes energéticas que trazem significado artificial ou excitação artificial aos seus mundos. Tudo isto afeta a qualidade dos corpos físicos, mentes e emoções.

Através da clarividência, percebe-se a rede fortemente tecida e que define a conexão do intercâmbio humano. É esta rede que faz com que a comunicação e a influência entre os seres humanos ocorram facilmente. Pela mesma razão, é difícil individuar-se. A substância etérica da rede é colorida pela frequência média do coletivo ao qual aderimos, ou seja, nossas preferências, hábitos, necessidades instintivas de pertencer a um grupo, necessidade de ser apreciado, amado, incluído, reconhecido, de acompanhar a moda ou de definir o que é aceitável e o que é pervertido. Atende à necessidade física animal de compartilhar o calor e o conforto. Acreditamos encontrar abrigo na rede, o que explica a obsessão por estarmos com outras pessoas e o medo de estarmos sós. Sua frequência assemelha-se ao torpor e à apatia, muito diferentes da qualidade da ressonância deliberada e de alta voltagem.

Para evitar estar só e sentir-se “vazio”, as buscas para obter energias podem durar indefinidamente. Às vezes, caímos em períodos de inatividade nos quais buscamos isolamento e privacidade para nos recuperarmos das perdas. Abastecidos pelo espírito através do sono, da meditação ou do descanso, regressamos para o mundo mais uma vez. Eventualmente, despertaremos para o que são as causas destes colapsos cíclicos.

A chave do manejo pessoal é consciência e o discernimento. A sensibilidade e o discernimento, elementos primários da vida espiritual, requerem considerável energia e nossas condições planetárias cobram desgaste físico de vitalidade e de inteligência. Quando despertamos para o chamado do espírito, saímos gradualmente da dinâmica automática que define o mundo material. Neste momento, enfrentamos e domamos a onda gigantesca que normalmente nos empurra e começamos a moldar nossa realidade.

Quando trabalho com meus estudantes, utilizamos certas disciplinas que propiciam a observação e a compreensão das redes que eles criam e mantêm. Envolve certo tempo antes que possam compreender a diferença entre ser testemunha e observar e ser aquele que calcula e avalia. Invariavelmente, em algum momento, queixam-se que o processo é muito “pesado”. Parece-lhes que a tarefa é excessiva. Em lugar de redefinir as prioridades, resistem afirmando que não têm tempo. É tristemente engraçado. Uma pessoa pode perder tempo com buscas frívolas, em divertimento sem sentido para conseguir significado e reconhecimento, excitando emocionalmente e sexualmente outras pessoas para se divertir. Mas, não consegue tempo ou inclinação para observar e dirigir seus talentos de forma construtiva. O processo se torna “entediante” pela simples razão de não trazer gratificação pessoal ou sensorial.

Mas, você pode ter o bolo e comê-lo ao mesmo tempo?

Tradução: Cláudia Avanzi