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Bem e Mal / Luz e Escuridão

Por: 19 de novembro de 2019 Sem comentários

Por Zulma Reyo. (Com base em uma carta escrita a um aluno há vários anos)

Tudo é uma questão de perspectiva.

Existem duas maneiras de encarar a vida. Podemos vê-la através de uma perspectiva linear, do modo como nossas mentes pensantes funcionam, ou podemos percebê-la holisticamente, do modo como o espírito funciona, isto é, em termos de simultaneidade.

Quando se trata de nós mesmos e de nosso mundo, damos importância aos pensamentos e valorizamos as emoções. Tudo tem um rótulo, em algum local na faixa do bem e do mal, do claro e do escuro. Analisando e decodificando de modo consistente, de acordo com o intelecto, pouco se sabe sobre como o espírito percebe e avalia. Em vez de sensibilidade ampliada, busca-se sequência e significado.

Quando consideramos a nós mesmos apenas em termos de matéria, limitamo-nos ao mundo físico, à identidade, à personalidade e à vasta gama de preferências, projeções e interpretações pessoais em um mundo consensual.

Se nos consideramos espírito, surge outra perspectiva. Nesse caso, tudo é unicidade em uma realidade experiencial que não dá importância à distinção, mas à qualidade. Não há luz + escuridão; o “+” é revelado como uma elaboração da mente linear. A escuridão é a ilusão de uma personalidade que constantemente avalia e separa aspectos de um todo, semelhante a um diamante multifacetado que é considerado incômodo. Atua por exclusão. A “escuridão” surge da necessidade humana que busca um contraste.

Esquecemos que a personalidade é uma criação, um instrumento. O egoísmo da personalidade domina, até a Consciência se desenvolver, trazendo clareza de sensibilidade. Nesse ponto, todos os significados relativos à “escuridão” (implicando “negatividade”) surgem para que sejam revistos. Para o Espírito, a escuridão é a natureza do todo, o pano de fundo da Criação. Ele vê as trevas humanas como um artifício criado por si mesmo que promove maior tensão, importância pessoal e o poder pessoal.

Se nos permitimos perceber tudo e qualquer coisa de forma neutra, detectamos camadas de atividade simultânea, cada qual anunciada pelo processo de pensamento que impõe ordem e significado. Em seguida, tomamos consciência do conteúdo e, imediatamente, de como nossa inteligência atua como um centro de projeção, “fazendo” (atuando). Se pudéssemos deixar de lado o fascínio pela identificação e catalogação e nos concentrássemos na dinâmica por trás do pensamento, poderíamos notar que o que chamamos de pensamento é realmente uma projeção criativa. Sendo assim, outro tipo de “pensamento” surge.

 

Se formos capazes de “suavizar” nosso foco mental e visual sem perder a consciência, como às vezes fazemos quando algo nos é revelado (em vez de olhar para o exterior), uma atitude de transparência e clareza desponta. A atenção se volta para o interior, para o Eu. Poderemos então ver e sentir, sob a perspectiva do espírito aliado à identidade pessoal. Essa é a postura do alinhamento natural. Leva apenas um segundo para fazer e séculos para entender, se é que acontece.

Não há luz + escuridão no pano de fundo da realidade. A pessoa enxerga tudo de forma clara, percebendo a totalidade, sendo ainda consciente de suas partes; apenas sem julgamento. A luz e a escuridão se apoiam em um jogo interminável de forças. A personalidade se torna um instrumento receptivo em vez de uma força motriz externa.

Só e tão somente se mudarmos a maneira automática de perceber em tons claros e escuros, bons e ruins, começará o verdadeiro trabalho de construir uma personalidade digna de transmitir o Eu. Com ela, virá também a percepção neutra e inclusiva: uma postura que abre o caminho para o aprendizado superior e o verdadeiro poder em níveis sempre sutis.

Tradução: Sueli Valades