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Conheça-te VIII: A Senda – O Caminho da Lua e do Sol

Por: 2 de outubro de 2017 Sem comentários

Por Zulma Reyo. Publicado originalmente em lamujerinterior.es

“O Anjo da Presença levanta uma mão para o céu azul. Submerge a outra profundamente no mar das formas. Assim, conecta o mundo das formas com a vida sem forma. Leva o céu à terra e a terra ao céu… Os dois são Um…O Verbo se manifesta. O trabalho termina. Permanece a visão do Todo. O trabalho mágico se realiza. Novamente, os dois são Um. O Plano Divino se realiza.”

Alice Bailey, Tratado sobre os Sete Raios, p.49.

 

Desde o nascimento, nossa trajetória sobre a Terra reflete de maneira única os caminhos da lua e do sol. Vivemos sob as influências subterrâneas e nebulosas dos ciclos lunares e sob o reflexo luminoso solar que inspira a alma. Todos percorrem o caminho, seja de maneira invisível e inadvertidamente ou deliberada e conscientemente. A primeira maneira é acidental e individual. A segunda requer esforço e disciplina, além de ser oferecida somente em certas escolas ocultas ou nas profundezas secretas de diálogos íntimos com o reconhecido mestre interior. A este último chamamos o Caminho Iniciático. O desenvolvimento espiritual transita por etapas sucessivas que oferecem aprendizagem de temas complexos, abraçando tanto o caminho do mundo concreto, quanto o caminho do mundo sutil.

Egito

Os regentes deste planeta, desde os seus primórdios neste sistema solar, marcaram indelevelmente o caminhar do ser humano com um processo de iniciações progressivas. Imprimiu-se nos anais deste planeta, no Egito antigo, a trajetória da tríade Isis, Osiris e Hórus. O caminho lunar foi denominado os “Mistérios de Isis” e o solar, os “mistérios de Osíris”. Infelizmente, seu significado real se restringiu a poucos que podiam decodificá-lo. O resto da humanidade, envolvida pelos véus do mistério, não entendeu que também estaria sujeita às mesmas leis e fases de desenvolvimento, só que no mundo do dia a dia, pois o caminhar humano é o mesmo para todos.

A maneira como se desenvolve a evolução e se manifesta o desenvolvimento espiritual sempre compreende o momento e as necessidades particulares da época e os requisitos dos grandes e pequenos ciclos da galáxia. Daí que o trabalho de um momento histórico seja diferente de outro; que uma forma de “re-ligare” (religião) seja diferente de outra que surge em uma época e cultura diferentes. Aqui, nos referimos à trajetória no ocidente.

Em nosso ciclo, e até muito recentemente, ressaltava-se o poder masculino, o domínio e a regência de mundos da mesma maneira que o Sol rege a Terra. O aspirante movimentava-se por ambientes eminentemente masculinos. Se o aspirante conseguisse atravessar os Mistérios de Isis, ou seja, saltar este abismo tão difícil para o homem, que consistia em uma variedade de experiências de entrega, seria admitido para formar-se nos mistérios solares.

Naquele tempo, não se considerava o estilo, as frequências, os ritmos e as diferentes habilidades das mulheres que, como se diz, iniciavam-se sozinhas ou encerradas em escolas de mistérios para servir de apoio ao sistema masculino e como sacerdotisas na sociedade. Não se falava do processo da sacerdotisa pelo simples fato de que a mulher, como Ser, era invisível para o homem, servindo como veículo, seja para propósitos iniciáticos ocultos ou para propagação da espécie.

Hoje, temos um caminho material e espiritual muito diferente. As etapas continuam as mesmas, mas o panorama, a energia e o perfume em que se desdobram é outro. Entramos em um grande ciclo feminino que durará muitos milênios.

Anteriormente, a mulher aprendia sobre sua própria natureza em templos com as mulheres mais velhas, mantendo a tradição de uma Isis “velada”. Hoje, estes véus caíram e Shekinah (aspecto feminino da kundalini) desperta em todos os seus aspectos. O desenvolvimento da mulher nunca seguiu a lógica e a forma; consiste no domínio do desconhecido, o Caos Primordial. Ela é chamada para converter-se em uma adepta do manejo de fluxos e refluxos da criação em uma harmonia que só ela escuta. Hoje, a função da mulher é outra, seja no mundo como liderança, seja no interior como força regeneradora da humanidade. Agora, ela se eleva à sua posição como senhora da noite, do fundamento, do vazio sobre o qual tudo acontece. Tudo mudou.

Egito2

Estamos conscientes de que a Vida É o caminho. Cada um reconhece sua espiritualidade quando se cansa do esforço grosseiro, da luta com o mundo exterior e se volta para o sentido da vida e da nossa própria sensibilidade. Buscando, eventualmente, nos damos conta de que nada externo pode nos preencher. Entramos em um processo de conscientização. A senda é variada e qualquer coisa que alcancemos gerará uma aspiração sempre maior. A própria busca de satisfação pessoal faz parte do caminho.

Ansiamos pelo equilíbrio. Nosso propósito real é construir uma ponte que ligue a vida social à vida interior. Poderá se passar muito tempo, mas um dia os aspectos se fundirão de maneira natural em um, no aqui-agora e nos situaremos entre o Ser e a aparência, entre o fazer e o Ser. Esse é o ritmo e o destino de todo ser vivo.

Mulher ou homem, escolhemos um caminho segundo a história individual da nossa alma e o temperamento que escolhemos. No que concerne à alma, não é fácil nem necessário conhecer seu nível de preparação: ela se revela. Nós a intuímos pela intensidade da sua chamada e da firmeza da nossa resposta. A sinceridade do aspirante se revela invisivelmente na disposição e disciplina com que ornamenta sua vida, no equilíbrio que mostra entre mente e coração, em seu gesto sutil individual, na sua sensibilidade e no seu sentido de adequação.

Hoje, mais do que uma opção consciente ou curiosidade, o caminho principal para ambos os gêneros se abre por si só em seu próprio momento, como uma atração pelo impossível, pelo ilógico e pelo difícil. Desorganiza a vida quotidiana. A pessoa que desperta para o chamado espiritual com sinceridade já não é mais um reflexo dos outros. Ela compromete-se consigo mesma a se observar, corrigir e aperfeiçoar pelo fato de saber que tem que ser assim. Isto se infiltra em todos os aspectos da sua aparência e das manifestações na sua vida. A auto-observação se torna fundamental e imprescindível; suaviza-se a habilidade de receber críticas e destaca-se a avaliação neutra dos acontecimentos. Nasce a discriminação: a habilidade para distinguir o verdadeiro do falso, o real da aparência. Manejamos mais e mais coisas, mais energias, tanto físicas quanto da mente-emoção-personalidade. Nesta etapa, crescemos em discernimento e em vínculo cada vez maior com esta voz que clama em nosso interior.

Por meio deste processo de autocorreção, constrói-se o ponto focal interior do observador. Surgem outras provas para o exercício da discriminação. Deve-se distinguir entre a Consciência e o comentarista dogmático de voz firme, ainda que doce. Caminhamos na corda bamba e desenvolvemos misteriosamente um equilíbrio entre a razão e o coração. Intensifica-se a presença da nossa própria alma como Consciência.

Estas primeiras etapas, geralmente, ocorrem individualmente. Uns poucos conseguem contatar seu mestre interior genuíno, distinguindo-o de milhares de leis e obrigações, juízos, preconceitos e instruções que nos são apresentados como sendo a verdade. Outros se voltam para escolas, mestres ou tradições, gravitando por grupos de irmãs e irmãos afins.

Aprendemos as dolorosas lições de insegurança, dúvida e confusão, de obediência e iniciativa própria nas relações de todo tipo. Passamos da obrigação ao atrevimento, ao desafio e à criação. Descobrimo-nos e nos refinamos, domando e formando nosso caráter real que se distingue da personalidade pelo fato de ser consciente e estar sob nosso controle. Progressiva e lucidamente descobrimos nossos limites e nossas possibilidades. Com honestidade e disciplina natural, já não há como voltar atrás. Cada experiência nos forma e nos encaminha para algo maior. Cada obstáculo ou impedimento nos flexibiliza, prepara e fortalece para desafios e possibilidades inconcebíveis.

Hoje, o que antes acontecia nas escolas iniciáticas, acontece no dia a dia. Particularmente sob a qualidade do impulso da nova energia solar, a formação de grupos de trabalho e de convivência faz um paralelo com os antigos templos e mosteiros. Oferecem as mesmas oportunidades. Como sempre, o que conta são as lições aprendidas. Nunca se tratou do conteúdo ou da matéria, senão do manejo de nós mesmos e dos mundos que sustentamos em apreço e reconhecimento ao grupo e ao plano maior.

Amando-nos uns aos outros descobrimos o que É, foi e sempre será e entramos em um programa de vida consciente.

Diferentemente do caminhar mundano, o Caminho Iniciático é uma abordagem sistemática para assumir a responsabilidade e o domínio de si mesmo e do mundo. Ocorre em qualquer parte e de muitas maneiras. Descobrimos suas leis e também nos é revelada a Lei – aquela que contém a totalidade. A que alguns chamam de Amor e outros, de Verdade.

Gradualmente, tomamos consciência do poder divino de criação que possuímos e de que isto somente ocorre em aliança com uma hierarquia de inteligências superiores que regem o universo. Desenvolvemos, transferimos e transformamos as energias que requerem manejo e administração de voltagens cada vez maiores e mais delicadas. Assim, vamos descobrindo a união subjacente que existe entre o manifestado e o não-manifestado, entre a forma e sua matriz sutil. Refinamos a percepção até tomarmos consciência das múltiplas dimensões em que existimos e funcionamos.

Colocamos tudo a serviço da necessidade do momento. Hoje, a necessidade não é de se isolar em conventos ou mosteiros, mas em permanecer no mundo. Hoje, a necessidade não é de silêncio pessoal, mas de ação no mundo com clareza, manejando apropriadamente a mente e as emoções. Hoje, a aspiração das almas não é se refugiar em sua estratosfera diáfana e já perfeita, mas de unir-se e fundir-se com os corações da humanidade nesta sagrada terra. Mãos à obra, nosso trabalho é no mundo físico. O propósito é sempre de enaltecimento da humanidade. Temos que levar a luz até o núcleo. Nossa escola iniciática consiste no manejo digno da vida comum.

Alguns trabalham com os aspectos externos e outros com os aspectos internos. Alguns, na compreensão da Natureza e outros, na colaboração e na aplicação da dinâmica da Criação. Mulheres e homens, de maneiras diferentes.

Hoje, a mulher anseia ser e expressar esse infinito que ela É ressurgindo da sua profundeza primordial para o mundo e doando conhecimento único que abre caminho, inspira e recria as texturas do mundo. Ela é iniciação lunar propriamente dita e chega à sua plenitude solar em majestoso brilho como o néctar luminoso que alimenta o mundo.

Por isto, meu eterno chamado à Mulher. Porque hoje o Caminho da Lua, como o Caminho do Sol, é diferente de ontem.

Tradução: Claudia Avanzi