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Conheça-te IV: A Mente

Por: 5 de setembro de 2017 Sem comentários

Por Zulma Reyo (publicado originalmente em lamujerinterior.es).

As palavras podem transmitir muito mais do que seu significado literal. Quando pensamos –“Tudo é Mente” -, abrem-se as janelas da percepção; o pensamento se estende em aberturas luminosas de vazio para revelar o estado do nada que nos conecta a nós mesmos, ao nosso Ser. Esta é a experiência direta da mente sem conteúdo. Poetas e filósofos sabem como induzir estes estados, fazendo-nos saltar da palavra para as associações criadas entre os espaços e mais além.

A mente é um instrumento maravilhoso da imaginação. Constrói formas e sugere universos. Define a emoção e lhe dá significado. Usamos a mente para comunicar-nos e dificilmente nos damos conta da faculdade milagrosa de que dispomos. As configurações sugeridas pela mente são os blocos (“building blocks”) por meio dos quais interpretamos a realidade. Como as emoções, a mente pode ser tocada e vista somente pelos seus efeitos. Mas, diferentemente das emoções, é a aliada invisível e intangível da inteligência, já que sua energia é angular e estruturadora.

A mente não tem outra relevância além de ser uma estação de sinais que nos permite manejar e jogar com formas e medidas em dois níveis diferentes. A mente comum escaneia os limites do nosso mundo tridimensional; a mente abstrata maneja grupos de pensamentos e, às vezes, transporta-nos além do racional. Uma gama de frequências, parecidas com as ondas de rádio, distinguem os nível ou os tipos, formando um sistema complexo de arquivos que vão do específico ao geral.

 frequenciamente

A mente comum ou concreta, tal como um computador, recorda, relaciona, decodifica, imita padrões e constrói sobre eles. Seu alcance é pessoal, social e programável. Registra tudo, recuperando primeiro os dados mais recentes.

A mente abstrata agrupa elementos e múltiplas possibilidades. Maneja um poço de referências, arquétipos e associações onomatopaicas. Administra grupos de conceitos lineares e muitas formas de transmissão telepática. Difere da mente comum somente em quantidade e tipo de forma que maneja e o fato de processar uma gama mais ampla e fina de frequências.

Além e na fronteira da mente comum e da mente abstrata existe uma orla mais sutil de abstração composta de frequências mais finas do que aquelas relacionadas ao nosso mundo pessoal, material ou intelectual. É intuitiva e inspiradora; define outra forma de pensar, aquela que ocorre aos saltos no vazio e que produz flashes sensíveis de pensamento.

 mentesuperior

A Mente Superior é a inteligência de conexão da Consciência que percebe e funciona além da dualidade e da abstração. Nós a confundimos, muitas vezes, com a mente abstrata. É multidimensional e conecta-nos efetivamente com a experiência que transcende a polaridade e a linearidade. Eleva o pensamento a um nível similar com o das altas matemáticas e o da música. Esta é a Mente que, como experiência pessoal profunda, abraça a Ideia/Sentimento Semente de Quem somos, O Que temos sido e quem e o quê Poderemos Ser. A mente superior funciona igualmente em mulheres e em homens porque capta a experiência da Realidade como espírito e alma, transcendendo o gênero.

Em termos de corpo e de personalidade, mulheres e homens usam a mente comum e a mente abstrata de diferentes maneiras. Nosso sistema pedagógico nos forma igualmente, mas cada gênero espontaneamente emprega uma abordagem diferente. Os homens tendem a preferir a mente linear e a abstração. Como já disse anteriormente, a mente masculina é a doadora de forma e medida e não cai facilmente em armadilhas emocionais, a menos que seja pela via da sensação física. Mentalmente, a sensação para os homens é tão enganosa como o são as emoções para as mulheres. Métodos de meditação que iniciam com o silencio ou a abstração são pontos de partida ideais para os homens que se propõem a vivenciar os níveis superiores da Mente.

Existe uma diferença significativa no processo mental da mulher: a complexidade intuitiva. Existem manobras mentais que não podem ser compreendidas; têm que ser vividas. É aqui que a mulher se sente em casa. O sentimento sempre invade o pensamento de uma mulher. Ela é capaz de receber múltiplas impressões enquanto responde a estímulos mentais e sensoriais, tudo ao mesmo tempo. Isto pode criar a impressão de que ela seja confusa, vaga e imprecisa. De fato, as mulheres alcançam níveis da mente superior por meio da sua faculdade sensível e aqui o seu discernimento é mais agudo e mais acertado que o dos homens.

Ao invés de empregar a mente como uma ferramenta agressiva de trabalho, para as mulheres, o uso da mente é receptivo, sem que falte firmeza e determinação. Uma mulher pensa em ondas e círculos de inferência e insinuação. Absorve e processa possibilidades sem interferência consciente, chegando a conclusões que são surpreendentes. Algumas mulheres servem-se abertamente das emoções, transmitindo conceitos poéticos que refletem inspiração e intuição. Outras mulheres usam a mente de modo marcadamente linear e intelectual, com metodologia precisa e científica. A maioria emprega uma combinação das duas formas.

Devemos entender que “a mente” não tem nada a ver com o cérebro. O cérebro é um mero instrumento que oferece o poder motor para todas as operações relacionadas com a dimensão física; armazena a experiência pessoal. A Mente é, por outro lado, o dispositivo perceptivo que facilita a interpretação da realidade. Em estados de meditação e de transferência de pensamentos, descobrimos que a mente opera além do cérebro. Não poderíamos dizer o mesmo do cérebro sem a mente. Mas, a Mente não se maneja a si mesma. Neste nível, é idêntica ao estado de Ser, ao qual denominamos “Eu”. É desta forma que nosso pensar de qualquer tipo maneja redes de possibilidades pessoais, sutilezas de emoção e um amplo campo de conceitos e associações.  Quando nossa atenção desliza pela armadura comum da mente linear e da categorização abstrata, entramos em águas desconhecidas. Entre o uso da mente comum, com seus sistemas de arquivos, e a experiência da Mente sem conteúdo abre-se uma brecha enorme. É o vazio onde se encontra a loucura ou a iluminação.

 

Este é o terreno da Consciência que contém outro sistema de arquivos, totalmente alheio ao nosso pensamento habitual. Aqui estão codificadas as unidades de memória remota, níveis e possibilidades que constituem a experiência da alma. É aqui também onde se desvelam os mitos holísticos da Criação, fórmulas e padrões de múltiplos níveis universais. Ao invés de um ser pessoal, nós, como Consciência unificada, alimentamos, coordenamos, interpretamos e comandamos a percepção por meio de elevados graus de abstração sensível. Para poder traduzir e converter tudo isto em algo prático e significativo como experiência na terceira dimensão, nesse momento, temos que nos conectar com a mente abstrata e a mente linear. Para estar conscientemente lúcido em Consciência é necessário um uso estável, mas flexível, da Mente em todos os níveis, reconhecendo expressões cada vez maiores, mesmo sendo as mesmas, até que todas elas se fundam novamente na fonte.

O que faz a inspiração “inspiradora” é a qualidade imparcial da Consciência que se parece com a emoção. A Consciência constitui um porto de contenção, uma espécie de vazio abrasador que possibilita a criação e a percepção. Dentro do seu alento, a Criação e tudo o que é, foi e virá a ser… navegam em simulações infinitas, tornando-se e regressando às suas origens várias vezes. Como você e eu fazemos em vidas após vidas de novas e diferentes formas.

A inspiração parece ocorrer por conta própria, quando inadvertidamente contatamos a Consciência. Acelera nossa mente e catalisa uma busca que, muitas vezes, culmina em originalidade ou revelação. Conecta-se com o campo original do “Eu” e regressa renovada. Pode acontecer que o sujeito, imerso nas inumeráveis expressões do Ser, penetre camadas da Consciência usando a mente abstrata, tal como ilustram a filosofia, a teologia ou as altas matemáticas. A Consciência corresponde a uma ordem superior de Vida – a eternidade. Entre a Consciência e as manifestações da Inteligência, existe a ilusão do tempo.

Mulheres e homens fundem-se facilmente em Unidade além de si mesmos, em Consciência. Aí, por sua própria textura, o Amor não é uma emoção, mas um Estado de Ser e a inspiração é a forma natural de viver.

Tradução: Claudia Avanzi