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Conheça-te VI: A Natureza da Dor e da Coragem

Por: 19 de setembro de 2017 Sem comentários

Por Zulma Reyo. Publicado originalmente em lamujerinterior.es

Com gratidão a todos aqueles que têm me amado e estendido uma mão. Bênçãos.

A essência do ser humano é um Estado de Consciência que assume a forma e as faculdades da substância e, portanto, está preenchida pelas duas. A Consciência se expressa como matéria e como inteligência em diferentes níveis.

Quando aceitamos o contrato da encarnação, assumimos todas as características, assim como a história dentro de uma linhagem de evolução. A própria inteligência, através do espaço-tempo, incorpora a força da Consciência que somos e que temos alcançado anteriormente em matéria, a qual temos mantido através dos tempos.

Cada encarnação, inclusive dos mestres, assume características ancestrais. Herdamos sua história. Durante a vida, desenvolvemos a capacidade que permite que nossa Consciência influencie o corpo/matéria. A enfermidade do corpo-mente pode ser o resultado da história da matéria, do mau uso da nossa própria consciência na matéria, ou dos dois. Em qualquer caso, é uma oportunidade para crescer.

A sensibilidade de hoje não é a mesma de tempos atrás e não somos a causa direta da nossa enfermidade.

Nosso corpo está marcado por milhares de anos de experiência humana que nos chegam através da genética. Esta é a história da mente sobre a matéria, a condenação ou o julgamento da substância em si, a vida individual em um corpo considerado uma mercadoria mais do que um presente.

A enfermidade corrige-se através da experiência da consciência no nível corporal. Isto não significa alcançar a saúde perfeita, mas desenvolver a consciência na matéria. Aumentamos a vibração da matéria de forma que se sintonize melhor com a vibração da Consciência. Isto supõe deixar para trás a limitada vida pessoal do corpo e da mente, ao mesmo tempo em que os abraçamos.

Uma mente positiva que gera compaixão recorda dos ensinamentos de mestres de todo o mundo sobre o “sofrimento”, o reconhecimento consciente do carma da humanidade como nosso mesmo. Não é uma aceitação cega, mas uma sensibilidade perceptiva que ensina a alma a vivenciar os limites do poder e do poder do amor.

A dor sensorial e emocional como sofrimento, bloqueia qualquer consciência maior, incrementando a reação instintiva e a resistência. A dor pode ser “oferecida” para aliviar a grande lista de transgressões da humanidade, se formos capazes de abraçar com uma atitude inteligente da mente e do sentir que não gere vitimização. Não se pode matar ou aplacar a dor sem que entre em jogo a consciência. Mais cedo ou mais tarde, voltará para nos ensinar a amar algo maior que nós mesmos.

A Consciência deve vivenciar as profundidades da matéria como densidade, dor e desamparo antes que possamos realmente aprender a compaixão. Cada gesto de amor fortalece a expressão da consciência. Não podemos atravessar a experiência da dor e passar a uma consciência maior, sem o amor dos que nos rodeiam, pois nos eleva quando nós não podemos fazê-lo, nos recolhe quando poderíamos cair, nos sustenta quando perdemos a fé. Em tais momentos, nossas próprias dúvidas e debilidades exercem tanta tensão e desassossego que não podemos enxergar nossa própria Luz ou nos abrir para receber a Fonte que estamos chamando.

A Consciência divina não pode interferir com o funcionamento das leis de causa e efeito estabelecidas pela matéria, mas a matéria sempre responderá à consciência humana. As técnicas para aliviar ou eliminar a dor se baseiam nesta ideia. O controle da matéria requer diferentes habilidades tanto da matéria, quanto da consciência, seguindo estruturas diferentes segundo o gênero. Na mulher, o nascimento de uma criança requer que se entregue à sensibilidade emocional para requalificar a dor. No homem, no campo de batalha, a resolução da dor requer uma coragem nobre e inquebrantável impondo a honra e o dever acima do mal-estar físico. Na iniciação espiritual, as experiências de homens e mulheres seguem padrões similares.

A coragem se destaca como uma atitude consciente do coração e do corpo, quando se tenha estabelecido a ponte entre Consciência e matéria e esta obedece à consciência. Nunca se pode ser imposta como uma ordem mental, pois seria superficial e pouco efetiva. Não se pode forçar uma postura física de desafio que somente gera força destrutiva e agressiva. A coragem é o resultado de uma resposta humilde e responsável para a matéria.

Uma grande dor e uma consciência limitada compõem uma definição clássica do inferno. Então, o que é estar bem ou sem dor? Isto é possível?

A encarnação supõe que temos uma sensibilidade e uma sensação infinitas que aproveitamos ou não. Para que a sensação seja a resposta para a vitalidade natural na qual participamos como testemunhas conscientes e benevolentes, temos que ter adquirido uma atitude de cuidado. Isto começa com conscientização, aceitação da sensibilidade e entendimento da sua importância na evolução humana.

Para requalificar ou redimir a memória ancestral devemos neutralizar as cargas e perdoar as transgressões que a deformaram, infringidas por nós mesmos ou pelos outros. Aliviando a dor ancestral deste modo, entendendo “toda” a dor, perdoando-nos a nós mesmos por todo julgamento não compassivo e ato de indiferença que se opõe à misericórdia. Só é necessária a consciência que chame para o perdão e para a aceitação a partir da coragem do coração. Desta forma, se choramos, o fazemos por toda a humanidade que nos precedeu e é liberada através da nossa dor consciente.

A dor é inerente à matéria; é sua linguagem. A coragem é o reconhecimento da Consciência na matéria. Expressa-se de forma ligeiramente diferente pelo homem e pela mulher para refletir diferentes sensibilidades e forças.

As nebulosas do universo são redes, como nervos ou tendões no tecido da Vida, expressando-se a Si mesma através da substância. Há beleza, criação e recriação sem fim, assim como em nosso corpo, onde a Consciência é a presença de Deus, o Estado de onde viemos. E, assim, a expansão da Consciência e o nascimento dos mundos continuam.

Nota: Recomendo ao leitor a série de artigos prévios “Conheça-te” onde me refiro à natureza do corpo, das emoções e da mente. As respostas sobre como se tem modificado a sensibilidade humana e o porquê nem sempre somos a causa da nossa doença estão ali discutidas. Se tiver perguntas específicas, por favor, entre em contato diretamente comigo. Com prazer as esclarecerei.

Tradução: Claudia Avanzi