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Conheça-te II: A Prática da Introspecção

Por: 21 de agosto de 2017 Sem comentários

Por: ZULMA REYO (publicado originalmente em lamujerinterior.es)

Tudo o que pensamos-sentimos plasma em um molde como forma-pensamento ao redor do corpo e estende-se para o ambiente criando nossa realidade. A energia vital do corpo é a base para as imagens formuladas por nossa mente e animadas por nossas emoções. Assim, construímos as muitas formas-pensamento que nublam nossa aura, atraindo energias e condições semelhantes.

O teu mundo atual reflete o que crê ser e o que faz. Semelhante atrai semelhante. Se, ao invés de ser um espelho das outras pessoas, você passar a pensar de acordo com a tua Consciência, o teu mundo se converterá em um reflexo do teu Ser e isto sempre é belo. Autêntico e valioso.

Se quisermos ser livres, teremos que começar por nos conscientizar da maneira como pensamos. É o primeiro passo para a reconstrução do nosso mundo e para a realização dos desejos da alma.

A prática da introspecção, descrita a seguir, é básica no caminho da iniciação, tanto para o homem, quanto para a mulher. Requer sensibilidade e esforço no início. Exige que um desejo de coerência predomine entre o teu interior e o teu exterior. Obriga a usar os dons da percepção e é um treinamento para o domínio de si mesmo, pedra angular para um mundo melhor e mais produtivo.

Fazer esta prática em grupo ajuda muito (http://lamujerinterior.wordpress.com/invitacion-a-circulo-de-mujeresmmd/), mas, no final, é imprescindível a vontade pessoal. Conhecimento intelectual é inútil já que a qualidade que alimenta toda forma-pensamento é emocional e parte das emoções utiliza a vitalidade do corpo físico. Se o anseio é pelo espiritual, não existe alternativa. Você terá que viver as emoções e enraizar-se firmemente no corpo, amar o presente e redefinir o mundo.

Lembre-se que tudo parte do teu interior, dessa voz tão íntima que às vezes você não ouve, mas sempre está aí. O principal é o contato consigo mesma; este é o guia e o mestre. Ele compreende, ama e permite o acesso a todo o conhecimento de maneira direta.

Se você for mulher, a sequência de exercícios sugeridos no meu livro “La Mujer Interior” facilitará esta prática. O exercício do blog anterior (Conheça-te I) já prepara para isto. Em todo caso, esta prática requer uma revisão nos procedimentos diários no nível das ações, das emoções e dos pensamentos.

Este exercício em particular nos foi inspirado pelo mestre do esoterismo cristão, Stylianos Ateshllis, conhecido como Daskalos (http://www.researchersoftruth.org/). Consiste em uma série de perguntas aparentemente fáceis que encerra um processo profundo de auto-observação.  Eu o modifiquei e adaptei para os propósitos da minha escola de consciência, agora voltada para a iniciação feminina, mas que, neste caso, serve igualmente ao homem.

daskalos

Daskalos com estudantes.

A correção genuína baseia-se em conscientização ou compreensão que pede disciplina com urgência, já que não existe liberdade sem disciplina. A consciência que nos inspira e nos guia internamente é a voz do nosso Ser. Não devemos confundi-la com as obrigações vindas do exterior e ditadas pelo autoritarismo, as autoindulgências e as crenças que carregamos. Temos que fazer um esforço para distingui-la das nossas condenações, justificativas, sermões religiosos ou regras de conduta aleatórias. Se o quisermos, saberemos claramente o que é bom e justo, apropriado e equitativo, que transcende nosso medo ou voracidade, nossos interesses e nossas conveniências.

Compreendendo isto, inicie uma revisão do dia, a cada dia. Enfoque momentos que não foram do teu agrado, seja porque ocorreu algo que o alterou ou porque não atuou da maneira que tua consciência recomenda.

Separando a experiência pessoal em três níveis (veja Conheça-te I), pergunte-se o seguinte:

 

1 (a) Fisicamente

O que ocorreu? Responda em termos de atuação e visualize a situação claramente.

O que aconteceu antes, durante e depois do ocorrido? Quem disse o quê e quando? Observe os gestos e o ambiente ao redor.

A memória grava tudo. Permita-se ver o que tua reação automática o impediu de captar. Você já sabe que algo não estava bem. Não se defenda ou acuse outra pessoa. Ponha de lado os rótulos que as emoções projetaram sobre o ocorrido ou as interpretações e associações da mente. Simplesmente, revise a cena e olhe minuciosamente como se fosse um filme. Permita-se sentir agora o que o corpo físico sentiu naquele momento.

2 (a) Emocionalmente

O que você sentiu? Este é o momento para identificar as emoções e observar como ainda estão presentes.  Conscientize-se dessa qualidade e como afeta o corpo.

Se você completou o primeiro passo – perceber fisicamente o que aconteceu -, poderá notar que existe uma diferença. Compare o que ocorreu emocionalmente com o que ocorreu externamente.

Verifique se tua reação está baseada no ocorrido, no que acredita que ocorreu, no que ocorreu antes em situações similares ou no que poderia ocorrer a partir disto no futuro. Não é tão fácil como você pensa.

Observe a tua intensidade sem mudar nada ainda. Com certeza, aumentará. Tenha paciência e vá para o passo seguinte.

3 (a) Mentalmente

O que você pensou? Perceba teus pensamentos no momento e imediatamente depois do ocorrido. Você continuou a alimentá-los? Observe a relação entre a sequência de pensamentos e as tuas reações emocionais.

Como estes pensamentos contribuíram para desencadear as reações registradas nas tuas emoções, no teu corpo e nas tuas ações?

Observe especialmente as tuas conclusões, incluindo justificativas e evasivas, culpas e condenações.

Regressemos, novamente, ao incidente. Desta vez, você escutará e responderá à voz da Consciência. Faça-o passo a passo. Não procure solucionar ou consertar a situação mentalmente. Para aprender o manejo energético e o autodomínio é preciso seguir o processo passo a passo, dominando cada energia individualmente.

Reconheça que “ajuste” ou “correção” não são nem a teu favor, nem contra. É a versão neutra e consciente que existe em cada um, além do orgulho que usualmente acompanha nossa atuação.

1 (b) Fisicamente

Agora, seguindo o que diz tua Consciência, pergunte-se: O que poderia ter feito ou dito que não fez ou disse? Faça a modificação neste exato momento, como se estivesse acontecendo. Mude as imagens e sinta seus efeitos em teu corpo. Revise a nova cena várias vezes. Note que a sensação física também estará se modificando.

2 (b) Emocionalmente

Captando bem o tom dos teus sentimentos – ira, medo, inveja, covardia e/ou outros, conceba outras emoções que poderia ter sentido se houvesse escutado o instinto superior. Note que isto deverá ocorrer no nível das emoções e não se trata de desculpas ou justificativas do que “deveria” ser, o que satisfaria o ego. Ou seja, verifique se teu sentimento, qualquer que seja, é muito intenso ou é uma simples doença ou irritação, o que dá no mesmo.

Qualquer uma dessas reações resultará em um julgamento. Evoque o que, a teu ver, seria a resposta apropriada. Humanamente, agora, sem condenação ou imposição, pergunte-se: O que poderia ter sentido naquele momento que fosse diferente? Identifique a qualidade energética correspondente.

Agora, substitua a emoção apropriadamente. Sinta. Imprima.

3 (b) Mentalmente

O que poderia ter constatado que não constatou (se não tivesse ficado se desculpando, defendendo ou acusando)? Separe as emoções e baseado no que vê agora, pergunte-se: O que poderia ter pensado que não pensou? Substitua esses pensamentos e observe a mudança, sentindo a energia mental. Não se trata de substituir um pensamento por um pensamento oposto, nem inserir uma afirmação ou usar controle mental. Trata-se de modificar a natureza da energia mental, o que não tem nada a ver com o seu significado. Ocorrerá uma espécie de relaxamento que se estenderá também pelo é o corpo.

Ajuste-se a este novo estado mental. Observe o efeito no conjunto da cena – como afeta teu corpo e emoções no presente.

Sinta o bem estar que esta clareza e retidão produzem mesmo que a ação tenha sido penosa. Talvez requeiram firmeza, desapego e tragam até mesmo o risco de que você se veja apoiado nos teus próprios pés.

Você modificou a impressão das formas-pensamento sobre a tua aura e o ambiente em que vive. Esta prática, quando realizada correta e repetidamente, aliviará o peso produzido por assuntos não concluídos, recriminações, culpas, histórias irrelevantes para os teus desejos mais nobres, tua criatividade e tua evolução.

Como prêmio supremo, você descobrirá que tem um aliado em você mesmo e que não há obstáculo que não possa ser vencido por esta aliança. Juntos, vocês passarão pela grande porta que o levará ao autodomínio e à maestria.

 

Tradução: Claudia Avanzi