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A Alquimia Feminina: O Caminho Espiritual da Mulher – Parte III: A Mulher Evoluída

Por Zulma Reyo. Publicado originalmente em lamujerinterior.es

O PROCESSO

A percepção de um homem é horizontal e abstrata. A percepção de uma mulher é vertical e holística.

Há muito tempo, na Índia, disseram-me que a kundalini é um fenômeno masculino e que as mulheres não têm a possibilidade de vivenciar esta experiência. Passaram-se décadas de observação antes que eu pudesse compreender a razão desta afirmativa. No homem, a energia se desenvolve em intensidade e sutileza, abrindo-se uma passagem que progressivamente lhe permite sentir as qualidades da Consciência refinada, condicionada pelos centros energéticos – os chacras – localizados ao longo da coluna vertebral.

O processo de desenvolvimento da mulher é desorganizado, diferentemente da forma característica do homem. A menor distância entre dois pontos para uma mulher nunca é uma linha reta. A Kundalini não ascende na mulher. Ela explora e se expande simultaneamente pelo corpo e aura.

A mulher está em um estado constante de ignição e emanação. Mas, por estar sempre no centro da atividade, ela não tem consciência do efeito que produz. Cataliza muitos níveis de atividade por meio da sua dinâmica, do emocional ao mental e à inspiração espiritual. Da mesma forma que seu reflexo orgástico particular, a energia de uma mulher expande-se concentricamente. O caminho espiritual feminino é um fenômeno holístico que constantemente salta de nível. Assemelha-se aos mundos da Cabala: um nível sobre outro, ocupando o mesmo espaço, mas em frequências diferentes.

Uma mulher que inicia o caminho espiritual não sabe o que a espera e, em lugar de confrontar os atributos físicos e emocionais do seu gênero e a aspereza das condições em nosso mundo, frequentemente tenta escapar deste confronto. Em tal estado mental, ela produzirá, no máximo, uma ideia que se pareça com uma emoção agradável, mas não irá mais longe do que isto.

O caminho de uma mulher desenvolve-se diariamente em seu corpo, emoções, responsabilidades e respostas. Em tempos passados, ela entrava em um templo para ser formada em percepção, saindo anos depois para assumir sua posição no mundo. A mulher era considerada um instrumento vivo do espírito, como oráculo ou fonte de poder para sacerdotes, líderes mundiais ou, pessoalmente, para o homem da sua vida. As necessidades de hoje são diferentes, mas ela ainda continua presa a este precedente, sem, no entanto, possuir a formação. Atualmente, ela é capacitada pela vida.

Cedo ou tarde, a mulher que abraça a espiritualidade encontra-se mergulhada na humanidade e prepara-se para trabalhar diretamente no mundo. Está longe de ser flor delicada e frágil, incapaz de enfrentar os problemas. O fato de que, hoje, existam muitos homens e mulheres que acreditam que seu lugar é junto aos anjos nega o fato de que os anjos necessitam de corpos e mentes fortes para executar o trabalho. A mente de uma mulher pode estar mais afinada com os anjos e os homens estão mais vulneráveis sem ela.

Uma mulher tem que se adaptar ao mundo material e às suas necessidades, cultivando suas aptidões físicas, emocionais e mentais, considerando as dimensões sociais. Quando plenamente estabilizada em seu coração, poderá conduzir-se a um segundo nível de refinamento. Mais tarde, quando suas habilidades se expandam para catalisar maiores voltagens de tolerância e poder de sustentação, sua aptidão visionária se manifestará levando-a a exercer influência e liderança mais amplas no mundo que a rodeia.

A cada etapa, ela ascende um patamar no manejo de causa e efeito, probabilidades e possibilidades. Ao mesmo tempo, em cada fase, os chacras florescem em múltiplas manifestações, exigindo presença e atividade. Ao final, a mulher converte-se em uma ponte entre dimensões, trazendo o não manifestado e expressando impressões sem precedentes.

A mulher contém a chave para a harmonia e a chave para o caos. Seu desenvolvimento assemelha-se às camadas de uma cebola onde a parte interior corresponde ao centro do universo.

A seguir, discorro sobre as três etapas básicas do caminho espiritual feminino.

 

PRIMERA ETAPA:  A mulher evoluída

Em meu livro “A Mulher Interior”, os exercícios estão desenhados para começar pelo nível mais tangível do corpo físico para, em seguida, abordar todos os níveis de conscientização necessários para completar a sequência da primeira etapa, construindo assim a base para as etapas seguintes.

O desenvolvimento da mulher depende totalmente da sua opção, sensibilidade e capacidade.

A opção pelo caminho espiritual exige decisões difíceis. A primeira decisão está relacionada à zona de conforto. A mulher pode escolher um aspecto da espiritualidade que garanta seu status quo, facilitando o caminho para conseguir o que acredita ser o que quer da vida. Ou poderá escolher ouvir a voz interior que a conduzirá para além das preferências do mundo. Esta segunda opção a leva a se sustentar sozinha em seus próprios pés e isto é extremamente difícil para a mulher.

Decidir por si mesma implica em manifestar as condições para ver, sentir e saber diretamente. Sobretudo, implica em compreender a programação mental a qual estamos sujeitas. A opção por maior autenticidade será o motor que a guiará e refinar suas emoções será o maior desafio.

Uma mulher deverá refinar seus impulsos emocionais sem reprimi-los. Falei muito sobre isto em meus primeiros artigos. Procedimentos típicos requerem a cura de feridas resultantes de sexualidade equivocada e a construção de uma excelência mental, manejando pensamentos e abstrações tão bem como qualquer homem. A mulher não pode mais se dar ao “luxo” de sentar-se passivamente e “não saber” o que ocorre em seu mundo e na sociedade em que vive. Não pode mais contentar-se em sentir-se “bem” ou “virtuosa”. Deve comunicar e ensinar o que percebe e sustentar o que percebe como verdadeiro. Isto requer cura, estabilização e fortalecimento dos centros inferiores.

Enquanto adquire maior consciência de seu poder interior e da conexão do seu centro com as forças que exerce, progressivamente é despertado um senso de ética e de comunidade.

FORMAÇÃO:

Toda a expressão energética tem origem na vitalidade física e consome vitalidade física. Como passo básico para o autodiagnóstico ou a avaliação de uma situação, a mulher deve aprender a distinguir em si a sensação física, a sensação emocional e a sensação mental.

Os exercícios de respiração proporcionam um foco não linear de atenção. Ao verificar a sensação durante a respiração, a mente visual automaticamente ativa regiões de maior ou menor concentração, estendendo a energia, neutralizando e equilibrando as diferentes partes até que esteja bem distribuída. Isto deve se converter em uma prática padrão de neutralização.

Normalmente, a mente condiciona toda a forma energética, criando contexto e dando-lhe significado. Uma grande parte da formação requer que a mulher controle o processo automático de etiquetar que interfere na observação. Durante esta operação, a mente deverá permanecer neutra, focada na sensação mais do que em seu significado. Trata-se da qualidade e da intensidade da sensibilidade, sem descrição, motivação ou propósito anterior. É o terreno básico para todo seu processo e atuação no mundo.

Outra parte da aprendizagem durante esta fase é descobrir a ação recíproca de nossos pensamentos e sensações. Conscientizamo-nos de como pensamentos construtivos atraem bem estar e como a negatividade produz incômodos e doenças, para nós e para o nosso mundo.

Vamos nos conscientizar de que as energias negativas se ajustam a padrões de densidade e celeridade. A qualidade de um pensamento de gratidão, alegria, serenidade e considerações deste tipo colore a energia corporal e traz uma força refinada e um ritmo mais lento. Assim, aprendemos o que é requalificação e como dissolver a negatividade.

A consciência corporal serve, então, para discernir o que ocorre ao nosso redor ou em outra pessoa pela maneira como nos afeta. O corpo fala e o escutamos. Sabemos o que é verdadeiro e correto pela maneira como nos sentimos fisicamente. Somente assim poderemos administrar apropriadamente as intensidades emocionais. Uma postura estável e consciente no corpo permite que surjam e se expressem adequadamente emoções genuínas ou que sejam neutralizadas quando necessário.

Confundimos, quase sempre, as condições emocionais com estados falsos de espiritualidade, amor, apegos e obsessões. Algumas mulheres desenvolvem esta habilidade espontaneamente que se manifestam de diferentes formas de psiquismo, como clarividência, clariaudiência e sensibilidade extrema em graus de duvidosa precisão. Estas aptidões podem ser desenvolvidas melhor, mais naturalmente e com maior segurança nas etapas posteriores, quando já estejamos ancoradas no discernimento e na ética.

A necessidade geral nesta etapa é o equilíbrio. Isto quer dizer que uma mulher deverá estar plenamente consciente das suas necessidades pessoais e suas formas de manipulação sem, no entanto, justificá-las. É nesta etapa que se encontra a maior parte da humanidade e onde a mulher deve aprender a redistribuir a tremenda força das emoções e acalmar sua sensibilidade energética. Impera a necessidade de encontrar o centro de si mesma, como Fonte, excluído qualquer requisito físico, psicológico ou mental.

Concluída esta etapa, a mulher deve assumir sua decisão inicial e seu lugar na família, no grupo social e na profissão. Torna-se mentora, mãe, um ser humano precioso para todos em seu mundo, elevando, inspirando, consolando e iluminando-os em compreensão e paz.

Para concluir esta etapa, deve-se ter um corpo expressivo, uma emocionalidade sensível e uma inteligência com discernimento. As etapas subsequentes requerem maior tolerância e disponibilidade energética. A mulher evoluída é um plus em qualquer parte e define uma vida de plenitude para ela e para todos que a rodeiam. Deliberadamente ou não, sua influência é muito forte e nosso futuro depende disto.

Veja na Parte IV: a segunda e a terceira etapas.

Tradução: Claudia Avanzi