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A Alquimia Feminina: O Caminho Espiritual da Mulher – Parte I: A Transição

Por Zulma Reyo. Publicado originalmente em lamujerinterior.es

Para a alma, não há distinção de gêneros. Mas, o caminho espiritual é determinado pelas perspectivas e possibilidades de cada gênero.

Mulheres e homens alcançam os mesmos fins, mas de maneiras diferentes. Contamos com habilidades especiais decorrentes da nossa estrutura física e hormonal. Mais do que a expressão, que em nossa época pode ser idêntica, isto se refere à percepção e ao tipo de sintonia com as formas de vida. Para alcançar a plenitude do Ser, e com ela a plenitude da alma, o caminho da espiritualidade da mulher e o do homem percorrem necessariamente estilos e etapas diferentes.

O mundo físico e as dinâmicas mentais têm sido tradicionalmente de propriedade do homem. É uma realidade linear fácil de compreender por ser de senso comum. Seu caminho espiritual tem sido definido e sistematizado para abraçar diferentes temperamentos e idades, servindo a elementos basicamente masculinos. Hoje, como sempre, a mulher compartilha o mesmo mundo, mas vive imersa em sensibilidades múltiplas, não visíveis, e apenas compreende. Supõe-se que suas necessidades sejam iguais às do homem, mas não é assim.

Os caminhos espirituais tradicionais são sistemas que não correspondem à qualidade variável de percepção e à biofísica do gênero feminino. Não se tem considerado até agora que a mulher busca entender quem e o que é.

A consciência planetária está mudando rapidamente, respondendo à mudança de correntes energéticas importantes que marcam nossa evolução em dois ciclos alternados. Estamos completando um ciclo e iniciando outro. A cada cinco mil anos, estes ciclos reajustam a humanidade e a terra em relação à galáxia e ao universo. As forças que nos chegam periodicamente do sistema externo exercem a função, por um lado, de desenvolvimento e, por outro, de equilibrar condições que assegurem o refinamento e a estabilização da humanidade. Estes ciclos são denominados de ciclos masculino e feminino. Influenciam a manifestação e a expressão de todos os aspectos, especialmente no pensamento, inspirando paralelamente a espiritualidade como expansão de consciência. Nenhum ciclo é melhor ou mais elevado do que o outro. Somente refletem as idas e vindas das forças evolutivas que impulsionam e expandem a vida.

Esta transição explica as enormes pressões que estamos vivendo. Enquanto as estruturas sociais, que tem assegurado nossa estabilidade durante milênios, dissolvem-se, outras, muito mais sutis, materializam-se, provocando insegurança em todos nós. A mentalidade habituada à continuidade resiste à mudança, mas a sensibilidade confirma o anseio que todos sentimos.

Segundo meu artigo “O Raio Feminino”, faltam apenas quatrocentos anos para entrarmos em uma nova frequência. O foco não está mais no poder e na força pessoal, vestígios dos imperativos masculinos. Mas, no trato humano que se depreende da interconexão entre todos os aspectos da vida. Estamos nos unindo, mulheres e homens, não mais somente em função dos filhos, mas em função do bem da humanidade. É urgente a redefinição de gêneros, comportamentos, direitos e privilégios, a individuação real, a maneira de tratarmos uns aos outros e, finalmente, a consideração da natureza e do espaço como extensão do nosso corpo, emoção e mente.

Os ciclos femininos anteriores se destacaram pela atividade expansiva, regenerativa e pacífica. O ciclo masculino atual caracteriza-se pela força de conquista, o qual tem gerado conflitos, e, ao mesmo tempo, pela obtenção da excelência individual. Tem sido um rico período de construção e redefinições que inspiram técnicas, sistemas e organizações e unem culturas e civilizações. Pela primeira vez, podemos falar de uma base humana global que acolhe diferenças e uma escolarização massiva que aprofunda a vivência e a compreensão sobre a vida.

Neste ciclo masculino, como nos anteriores, a mulher tem sido o centro da família e do lar, símbolo afetivo dos laços de família. Sua sensibilidade tem sido percebida no âmbito íntimo, privado. No entanto, sua verdadeira vida, prioridades e opiniões, têm permanecido ocultas. A mulher tem dependido do homem no que diz respeito à sua identidade, ações e para definir sua qualidade de vida e seu lugar no mundo. Tem exercido o poder da única maneira possível – a manipulação das emoções e o magnetismo sexual, instigando alianças resultantes da atração ou da rejeição, da culpa e do desejo. Tem sido a Eva bíblica e se tem feito imprescindível na vida interior do homem como seu apoio e companheira incondicional.

A mulher adequou-se às necessidades do homem. Seu corpo e seu afeto serviram de apoio. Por outro lado, de forma aberta ou velada, a mulher foi explorada pelos apetites sexuais do homem. O tremendo poder da mulher e seu caminho espiritual foram obscurecidos e contidos por juramentos e promessas inflexíveis e modelados por ritmos e elementos incoerentes e misteriosos.

Respondendo às exigências do ciclo masculino, o homem cumpriu seu papel de protagonista e líder indiscutível da humanidade, construtor e doador de formas e medidas. Expressou-se individual e independentemente como gestor e como instrumento da sociedade na política e na economia. Demarcou limites e territórios. Contou com um sistema de súditos, entre eles, a mulher e seus filhos. Dominou pelo medo, obrigação, força física e controle mental. Seu papel tem sido visível, seu caminho, ordenado e fundamentado em leis e instrumentos de construção e controle, definindo suas possessões que incorporaram seu nome e sua identidade.

Sem os subsídios da energia feminina genuína, a modalidade masculina não poderá ir longe. A roda do progresso necessita das diferenças entre os gêneros. As rodas que foram colocadas em marcha pela proximidade do raio feminino estimulam uma nova voltagem e um novo potencial. Na mulher, o desejo de se expressar surge da sua profundidade: clama por si mesma sem as determinações impostas arbitrariamente pelas necessidades do ciclo anterior.

Gradualmente, o papel do homem será expresso de uma nova maneira, na qual seu poder se manifestará de forma global e humana. Isto não quer dizer que a mulher tomará seu lugar. Tampouco significa que um suposto lado “feminino” irá despertar no homem. A influência do ciclo que virá representa o refinamento e a aceleração em cada gênero que nos elevará em amplitude. O homem seguirá exercendo seu domínio em expressões que melhor manifestem seu potencial. A mulher seguirá inspirando, apoiando e atuando em serviços compassivos.

Hoje, mulheres e homens despertaram intelectualmente para a necessidade da igualdade visando iniciar as grandes mudanças que determinarão um futuro muito diferente. Compartilhamos tarefas, recebemos a mesma educação, atuamos de forma igual na ciência, no governo, nas artes, na música, na educação. No entanto, a situação subjacente é outra. Os conflitos que se vislumbram dentro das estruturas sociais são consequências do desequilíbrio criado pela ausência do feminino no momento em que a expansão masculina atingiu seus limites e começou a definhar. Agora, a mulher deve manifestar sua inteligência peculiar e seu poder. Pelo fato da expressão feminina não ter alcançado ainda a consciência emocional e espiritual, os sublimes ideais que perseguimos geram, hoje, atritos e competição em lugar de compaixão e transformação.

Em nossa ânsia por uma sensibilidade mais humana, exige-se do homem que seja materno e emotivo, que exerça compaixão e entendimento da mesma maneira que a mulher. Esta exigência o deixa profundamente confuso, tirando-o de uma posição de comando e confrontando-o com uma parte da sua estrutura que é delicada e sensível. O homem não está formatado para ser “feminino”, por mais terno ou compassivo que seja. É outro tipo de transformação que ocorrerá com ele – aquela que enalteça suas próprias aptidões masculinas.

Em nossa obsessão por uma igualdade visível, exige-se que a mulher desenvolva o mesmo tipo de força física e mental que o homem, em um contexto competitivo e agressivo que não combinam com suas inclinações. Pede-se que mantenha um padrão construído de acordo com as regras e, ao mesmo tempo, que seja independente e livre, o que a endurece e priva a sociedade (em especial, o homem) do seu calor e alimento. Da mesma forma, impõem-se doutrinas e crenças que a obrigam a colocar-se à prova publicamente, como ocorria nos melhores torneios medievais. Doutrinada por séculos e acreditando agora que é seu direito, submete-se de livre vontade a preceitos de caminhos espirituais que foram desenhados pela estrutura do homem e não a sua. Por mais que se esforce, seu poder e seu lado dominante não são “masculinos”.

Hoje, os papeis, as funções, as responsabilidades e as obrigações são compartilhadas, mas um novo ciclo não se define com a inversão de papéis, camuflando e excluindo elementos. A mulher deverá discernir entre suas emoções e seus sentimentos unindo-se, assim, ao processo de gestação do universo para elevar sua própria natureza encarnada. Sabendo que tudo é seu e faz parte do seu corpo, cessam o medo, a insegurança e a confusão em que tem vivido para que emane dela o perfume da sua essência.

Contando com o apoio feminino, a transformação do homem deverá ocorrer, mas não será atingida através uma mera decisão. Surgirá por meio da dedução inteligente e temperada por emoções sutis que refletem sua incessante aspiração por um ideal maior. O gênero masculino aspira sempre a superar-se: assim começa e termina seu caminho. Reconhecendo que não possui nada, apreciará o dom da flor que a mulher representa. Sua realização será uma faísca de inspiração que ela lhe sugere e que, a seguir, ele concretiza.

A espiritualidade reflete a vida cotidiana e não o contrário. Na transição, estamos alterando radicalmente a programação mental sobre a qual se ergue a sociedade. A transformação que vemos é tão forte e caótica como os movimentos climáticos e os temperamentos voláteis de ditadores destronados. Implica no processo de desnudar crenças, redefinir propósitos, prioridades e procedimentos. Significa reavaliar o que chamamos de “necessidades” pessoais e coletivas. A espiritualidade de nossos tempos espelha necessidades internas que se sobrepõem a uma verdade difícil de aceitar, uma esperança frágil e uma paz impossível de fazer acontecer.

Nosso caminho, como mulheres e homens, não pode ser de mãos dadas como nas novelas românticas de tempos passados. Em um nível mais alto, cada um exercerá a força e as aptidões individuais. A mulher e o homem do futuro não serão o que são agora ou o que aspiram ser. Este ser interior (veja “O Pináculo da Vida”) não surge por justaposição, nem por oposição. Surge do interior imaculado de cada um em uma conexão sensível.

A transição na qual nos encontramos convida à independência e à individualidade que emana de um centro único e pleno no indivíduo. Em outras palavras, a transição vislumbra a plenitude sem impedimentos ou inseguranças que exigem apoio, autorização ou comparação. Com este simples princípio, mudamos toda a sociedade e criamos um ambiente para o futuro.

O futuro próximo já não trará as expressões externas resultantes da qualidade interna da experiência humana e das dinâmicas que a inspiraram. A força física e a lógica apoiarão a conexão com o mundo de sutilezas refinadas quando ambos os gêneros alcançarem a excelência das suas diferenças.

O caminho da mulher pede uma atuação interna e nas estruturas do mundo que requer sutilização da percepção e do domínio interior. Para o homem, o caminho pede humildade e entrega ao ideal, significando a recompensa por seu trabalho dos últimos séculos.

Tradução: Claudia Avanzi